Por Silvio Médici, presidente
Uma das grandes paixões do brasileiro é, sem dúvida, o automóvel. Desde os anos 50, aqui e também no mundo, os carros materializam o desejo de liberdade e de autonomia. E nem poderia ser diferente no Brasil. Sem oferta de transporte público, e com os sucessivos governos desde sempre apostando tudo no transporte sobre pneus, o que restou à população para seu deslocamento foi o automóvel, que virou também uma necessidade.
Hoje, temos uma frota de mais de 90 milhões de veículos automotores que circulam pelo país, sendo que 2,7 milhões são veículos de cargas, que transportam 61% de todas as cargas movimentadas no Brasil, em 213 mil quilômetros da malha rodoviária pavimentada.
Como se vê, além da paixão e do prazer em dirigir que despertam os veículos automotores, eles também são responsáveis pelo transporte de significativa parcela do PIB nacional.
Daí a importância na manutenção e na segurança das rodovias e vias que geram riqueza, mas também geram graves problemas que impactam na vida das pessoas e do Estado.
Atualmente morrem mais de 40 mil pessoas vítimas de acidentes de trânsito e outras 300 mil ficam lesionadas, o que nos coloca na vergonhosa quarta posição no número de mortos, após da China, Índia e a Nigéria, e no quinto lugar no número de acidentes por habitantes, após a Venezuela, Nigéria, África do Sul e Angola, o que não é pouca coisa.
Os acidentes de trânsito ocasionam uma sequência de efeitos que não se esgotam na cena do veículo danificado. Essa cascata recai primeiramente no atendimento do SUS (Sistema Único de Saúde), gerando gastos na ordem de R$ 50 bilhões por ano, com despesas hospitalares, para, em seguida, desaguar em outros custos, que estudo da Escola Nacional de Seguros chama de “produto perdido com a morte e a incapacitação dos acidentados”, na ordem de R$ 220 bilhões, ou seja, 4% do PIB (Produto Interno Bruto) nacional.
Ora, um diagnóstico deste não pode ser enfrentado olhando-se somente o prazer de dirigir. O Brasil levou décadas aperfeiçoando sua legislação e os meios de controle de velocidade, uma das principais causas de acidentes de trânsito, e este assunto precisa ser encarado com a seriedade que requer o problema.
A tecnologia na gestão do trânsito traz eficiência e segurança, como já comprovado em todo o mundo. No Brasil, a introdução da fiscalização eletrônica trouxe ganhos significativos com a redução de até 83% no número de acidentes nos pontos que são fiscalizados.
Portanto, esse desmonte no sistema de gestão do trânsito brasileiro, com a mudança no período da validade da CNH, o desligamento dos radares e a eliminação dos simuladores, que vem sendo proposto, somente contribuirá para o agravamento do quadro apresentado, beneficiando os infratores contumazes.
Ao contrário do que dizem, no Brasil não existe a indústria da multa, o que existe, sim, é a indústria de infratores, e que precisamos combater com rígida fiscalização, educação e a tecnologia.